Os PERITOS CRIMINAIS da Unidade
Regional de Perícia e Identificação de Três Lagoas desenvolveram trabalho
semelhante ao que o público em geral assiste em séries de TV norte-americana
para auxiliar o Ministério Público Estadual, Justiça Estadual e Polícia Civil
em julgamento de crime de homicídio.
Os profissionais da URPI da cidade precisaram recorrer a diferentes métodos
científicos para garantir que o julgamento de Ercílio Privatelli fosse
realizado com base em provas. Ele foi condenado por homicídio qualificado por
motivo fútil e fraude processual qualificada em ocorrência que vitimou José
Cícero.
O julgamento aconteceu em 28 de abril deste ano. Mas o crime foi praticado entre
a noite de 10 de julho e a madrugada de 11 de julho de 2007.
A dificuldade em realizar esse julgamento
começou com o fato do réu ter forjado um acidente de carro, onde a vítima teve
o corpo carbonizado. Situações que se montaram como um quebra-cabeça complexo.
Para desarticular as peças, foi necessário que a Perícia Oficial Forense do
Estado recorresse a diferentes estudos para comprovar o que se chama
materialidade do crime.
Foi preciso identificar que o caso não se tratava de um acidente de trânsito, e
sim, de um homicídio. Também foram necessárias provas que apontassem a autoria.
Como em um primeiro momento, sinais evidentes de homicídio não foram
identificados, José Cícero foi enterrado como vítima de acidente de trânsito.
Suspeitas posteriores exigiram a exumação do corpo. O Perito Médico Legista
Ronaldo Rosa realizou o procedimento e durante esse minucioso trabalho,
localizou uma lesão causada por disparo de arma de fogo, bem como um projétil.
Em outra ponta, Peritos Criminais de variadas especialidades (como biologia e
química) fizeram diferentes ações no veículo de José Cícero e no local do
crime, inclusive com a reprodução simulada (reconstituição).
A atuação dos Peritos Criminais Milton Cesar Furio, Paulo Roberto Oliveira, Rogério
Oliveira, Maria Cristina Fabris, Josemirtes Prado da Silva e da Agente de
Polícia Científica Mirian Barbosa garantiu elaboração de laudos conclusivos e definitivos.
O investigador de polícia judiciária Oldenir Lopes também teve papel importante
ao realizar a radiologia no procedimento necroscópico depois da exumação.
Um par de óculos
Esse
trabalho ainda contribuiu para que fosse encontrado e recolhido por Perito
Criminal óculos do
autor com manchas de sangue da vítima. Nos óculos foi identificado material genético (DNA)
do réu, provando sua presença no local do suposto acidente.
“Foram necessários diversos esforços de peritos da regional de Três Lagoas, do
Ialf (Instituto de Análises Laboratoriais Forenses) e do Instituto de
Criminalística de Campo Grande para obter os laudos”, explicou o atual chefe da
URPI de Três Lagoas, Romeu Pereira da Silva Rosa – Perito Criminal.
O trabalho conjunto com outros órgãos, como o Ministério Público Estadual, foi fundamental para fechar o caso. “Tivemos que nos
reunir muitas vezes para poder identificar buracos que precisávamos cobrir. A
promotoria também nos informava o que era necessário para atender à questão
processual”, relembrou o Perito Criminal Milton César Furio, que atuou no caso
desde o início.
Em entrevista à rádio Caçula de Três Lagoas, o promotor Luciano Lara, da 8ª
Promotoria de Justiça, detalhou o trabalho.
“Várias perícias foram realizadas. Houve necessidade de remontar a história,
uma vez que a fraude processual realizada tentou induzir os peritos a erro,
tentou induzir o juiz a erro. E a exposição dessas perícias aos jurados foi
muito positiva e favoreceu a condenação”, detalhou.
O brilhante trabalho das instituições envolvidas, principalmente na
produção das provas pelos Peritos Oficiais, permitiu montar o quebra-cabeça,
elucidando os fatos. “A busca pela verdade é o que norteia o trabalho dos
Peritos Oficiais”, concluiu o Perito Criminal Antônio César, presidente do
SINPOF (Sindicato dos Peritos Oficiais de Mato Grosso do Sul).
O crime
O assassinato
aconteceu porque Privatelli suspeitava que o administrador de fazenda José
Cícero teria se relacionado com a mulher dele. O filho do acusado chegou a assumir a participação
de tocaia e, segundo o Ministério Público Estadual, no velório da vítima pediu
desculpas à viúva. O rapaz morreu em acidente de trânsito antes da data do
julgamento.
Condenação
Pelo crime de fraude processual qualificada, o acusado acabou condenado
a seis meses de prisão, mas a pena foi extinta pela prescrição. Pelo homicídio
qualificado, Ercílio Privatelli foi
sentenciado à pena de 14 anos de prisão, com direito de recorrer da decisão em
liberdade.