Os peritos
oficiais do Instituto de Análises Laboratoriais Forenses (Ialf), em Campo
Grande, descobriram a partir de exames complexos de elementos químicos uma nova
tática de traficantes atuando em Mato Grosso do Sul.
Criminosos,
a partir de conhecimento avançado em ciências farmacêuticas e químicas,
desenvolveram entorpecentes capazes de dificultar a identificação de
substâncias que caracterizem o produto como ilegal.
Esse tipo
de substância, muito mais apurada que cocaína ou maconha e com composição
semelhante ao LSD e ecstasy, acaba passando despercebida da ação policial no
combate ao tráfico de drogas. Ou, mesmo quando apreendida, em primeiro momento
não atestam positivo para exame que constata ser um entorpecente.
As drogas
modernas vêm sendo comercializadas em Mato Grosso do Sul como selos, ou seja,
podem ser facilmente escondidas ou vendidas à distância e entregues aos
usuários, por exemplo, dentro de envelopes de cartas. As principais apreensões
aconteceram até agora em cidades turísticas, como Bonito, além de Dourados e
Cassilândia. Campo Grande figura com menor incidência nesse cenário.
Depois de
estudo e troca de informações, agora a Perícia Oficial do Estado consegue decifrar
esse código para auxiliar a Polícia Civil e o Judiciário a caracterizar o crime
como tráfico de drogas. Os primeiros testes positivos começaram a ser feitos em
novembro de 2015. Neste ano, outras análises de material apreendido por
autoridades do interior do Estado também foram submetidas a exames e houve a
comprovação.
Os
entorpecentes identificados foram o 25I-NBOMe, 25CN-BOMe, alilescalina e
triptilina. Eles têm derivação da metanfetamina (que é altamente viciante e tem
efeitos diretos no sistema nervoso central e periférico).
Por serem
utilizados como alucinógenos muito recentemente, a polícia só consegue concluir
o inquérito como tráfico se este tipo de química ilegal for comprovada pela
Perícia Oficial. A 25I-NBOMe foi descoberta em 2003, mas somente em setembro de
2014 a Europa, por exemplo, proibiu seu uso. A 25CN-BOMe surgiu em 2010, mas só
apareceu na literatura forense em 2011.
Os peritos
do Ialf obtiveram êxito nas investigações depois de trocar experiência com
laboratórios do Rio de Janeiro e São Paulo, onde a venda desse tipo de
alucinógeno e estimulante é mais constante.
COMO CHEGA
O tráfico
dessas substâncias, muitas vezes, chega a Mato Grosso do Sul por meio de
correspondência, com origem de países da Europa.
“Não existe
nenhum tipo de estudo aprofundado sobre elas aqui no país. Ninguém sabe ao
certo a quantidade que pode levar a overdose, por exemplo. Por isso são muito
perigosas e a polícia depende do trabalho da perícia oficial para conseguir
identificar que se trata de algo ilícito para atuar no combate”, explicou o
perito criminal Evandro Pedão, do Ialf.
Em 2014,
congresso realizado em Ribeirão Preto (SP) entre a Agência Nacional de Vigilância
Sanitária (Anvisa) e as Perícias Oficiais Forenses ajudou a atualizar a
portaria 344, de 1998, que regulamenta as substâncias e medicamentos sujeitos a
controle especial. Essa legislação norteia o trabalho da Perícia Oficial para
descobrir novas drogas em Mato Grosso do Sul.
INVESTIGAÇÃO
Para se
chegar ao laudo definitivo foi preciso utilizar a técnica de cromatografia
gasosa acoplada com espectrometria de massa. Trata-se de equipamento presente
no Ialf de Campo Grande.
Com a descoberta da exata técnica para identificar a droga, o resultado fica pronto para a Polícia Civil e o Judiciário em 72 horas.